quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pelas Barbas do Profeta!

Sincronize a vida no auge da insanidade,alheio às intrigas de mártires sem salvação.Descanse.Envia ao mar teu mais temido anseio,tuas direções infinitas,teu destino improvisado.Porque até no rumo tens dúvida da existência que representas.Espere.Busca na palavra-poesia-canto a maneira mais tênue de terminar o dia.Delire.Brinca de ser manso,atende aos montes de algodão que se fazem nos sonhos empoeirados de pouca fé.Eternize.Se desfaça dos poços imundos que tua mocidade criou no teu âmago.Exista.E voa,de ano em ano,até o mais perdido andar do mundo.Mesmo nulo à ti,me encanto,e me desespero em tuas quedas.Fica.Que aqui não falta o que falta em mim.

Elisama Olivera

domingo, 23 de setembro de 2012

Eu preciso de um dia de fuga.

As pastagens são menos indelicadas quando as vejo de perto.Cercadas de cóleras e más lembranças.
                  Pretérito,Imperfeito.
Voluntários são os ventos que vem do sul em uma dança síncrona pra me fazer entrar em transe.Menos dois amigos,vinte e duas perdas.Dois anos.Não há invólucro capaz de guardá-los do mal tempo,e da velha história de sempre.Aquela em que todos partem.

Tenho sonhos desesperados quando não chove.Me envolvi em uma canção de exílio muito maior do que pensei que seria,uma rua sem saída.E não me vejo num só dia além do seu.Querido amigo imaginário,portador de dúvidas e esperanças.Quem não teve anseio de temer,o escuro.A espada,o corte profundo.

"Vem,anjo de braços abertos,comiserar-se dos pecados que eu colhi.E sangrar cada pedaço de saudade que há em mim,em ingenuidade e desgraça.Estou no ponto menos fraco d'onde parti."



                                                                                                                                    Elisama Oliveira

domingo, 12 de agosto de 2012

sábado, 11 de agosto de 2012

Enlouquecendo no que se diz,respeito.

      — Você caminha rápido demais.Não espera o tempo.

                                  t e m p o *


Vasto.Nulo.Grande.Imundo.Em controversa,imaculado.O tempo,a vida,a mão,o cabelo,o laço,o perdido.Desencontrados.E em tudo isso sou coadjuvante.Queria ter mais prática,mais maleabilidade com as sílabas que te formam.E em todas elas sou desgastada.Como as calçadas do centro.Meu bem.Não sou tão desequilibrada como disse que seria.Perdão.Sou dessas-que-sempre-se-perdem-n0-que-diz e depois partem para o mais fundo dos oceanos jurando encontrar resposta.Não encontro.Juro que nunca tive menos que dois sonhos na carteira,mas eu tenho essa mania de enfeitá-los.Daí sempre parecem muitos.Mas são só dois.E nos dois eu me enrolo e desenrolo.Vou realizá-los quando todas as repostas forem respondidas.E são muitas meu bem,muitas.Por isso as muitas borboletas na minha parede imaginária.São pra descontrair.Uma de cada cor.Uma de cada nome.Sete de cada sonho.Quatorze cores,quatorze nomes,dois sonhos.Enlouqueci.



Eu preciso esperar,é o que dizem.Certos,e como estão.Me arrependo de ser tão teimosa quando os peço silencio.São tantas recaídas.Tantos pulos no escuro.Dos mais altos andares da desobediência.Eu quero um mundo que ainda não existe.Uma vida que ainda é distante.É por paixão sim,mas por que ainda não estou satisfeita? Não é paixão então.Digo que é! E repito que é! Porém,ainda a questão me embala.Eu estou crescendo rápido demais,de dentro pra fora.E isso não é bom.

Não é verdade que não rio mais.Sou mais que esse barulho nas ruas multiplicado por quatrocentos.Quieta.Mesmo escrevendo a vida,mesmo pintando insetos esquisitos.Não me satisfaço.E peço perdão.Pela birra,a incoerência.Quero ser criança.E consigo.Mas desisto.E no todo eu não sou um terço do que quero.Daí repetem:
      — Você caminha rápido demais.Não espera o tempo.


E como em todas as vezes,me calo.Certos estão.






Elisama Oliveira.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Quando Ana nasceu,

Quando Ana nasceu,o céu tinha um sol à mais.Havia um cheiro de tulipa em tudo que era seu.É,tulipa.Por que? Não sei.Ana gosta de tulipas.Bom,quando ela nasceu o mundo não parou,não houveram mobilizações,nenhuma visita importante.Era só uma quarta-feira de julho,da qual ninguém irá se lembrar.Eu nunca gostei de quarta-feiras.Sua passagem pela vida,mesmo curta,marcou mais que aqueles beliscões que ela me dava quando eu dizia besteira,e riamos,riamos até ter que limpar os olhos com as mãos sujas.Era extasiante aquela sensação de alívio.Quando ela enrolava os dedos no cabelo enquanto me dizia um segredo.Nosso,e todo nosso aquele jeito de viver.

Ana me ensinou muitas coisas antes de morrer.Me contou sobre seus botões malcriados,sobre suas obras incompletas e seus desatinos infelizes.E eu nunca deixei de me perguntar de onde ela tirava tantos risos.Tanto gozo pela vida.Tanto abraço.Tanto beijo.Tanto amor,tanto brilho.Por Deus!Onde ela enterrou tudo isso? E não foi consigo,sei bem.Eu a observava,e espionava seus atos até os mais simples gestos.Tão puros,tão inquestionáveis.E não me perdoo por tê-la deixado se macular tanto.


- Ana,sinto sua falta.As coisas têm sido difíceis,tudo.Não consigo me levantar um único dia sem me questionar tua partida.Eu sei,não dava mais.E eles não te perdoaram,eles foram tão estúpidos em te rabiscar daquele jeito.Mas,volta.Me abraça,diz que eu consigo,que não existe inferno,que não há mal com que se preocupar.Diz que o céu é da cor que eu quiser.Que as flores falam um idioma que só você entende.Decifra minhas cicatrizes e sonhos como tu fazias.Eu ainda tenho aquele passarinho machucado que tu desenhou pra mim,e me pediu pra cuidar dele,lembra? Eu ainda tenho.Mas,ele vai morrer Ana.Porque ele precisa de você assim como eu preciso de um sentido pra viver.

Não houve resposta.É sempre assim,são três toques e quase no quarto é que o telefone é atendido.Nunca dizem alô.E eu falo,canto,clamo,às vezes até choro,conto uma piada - quase sempre posso imaginar um lábio se esticando num sorriso breve do outro lado da linha - e depois agradeço,desligo.Ninguém nunca responde.
Sabe,eu sinto falta de estar viva às vezes.A verdade é que quando ela se foi levou consigo um pedaço de mim bem maior do que esperava.Quase um quarto de alma e uns dois terços do meu espírito!

Um primórdio,e duas almas se entrelaçaram naquele meio termo.Nos nossos cantos de reabilitação e estórias de   grandes conquistas,ainda éramos tão mortais quanto qualquer um.Eu penso que possa haver um outro pensamento desencontrado no final de alguma montanha no caminho para Minas.Nós enlouquecemos aos pouquinhos não é mesmo,Ana?

As quatro horas já não sou contente como era às duas.E juro que não é birra,que não é aquela fase de ser triste pela qual as pessoas insistem em viver.É só perder a essência.Como se eu soubesse que depois das dezesseis horas não é mais tão divertido estar de pé.Porém,às dezenove estou contente de novo.Depois das dezenove eu sou um rosto estranho passeando pelo centro com anjos quebrados.Meus anjos quebrados.Enfim,digo que depois das dezenove horas sou contente de novo pois há algo com o que se alegrar.Sim,essa alegria menina vem do ato de não  e-s-t-a-r  sozinho,de ter paz ao mergulhar naquele sorriso amarelo.A vida continua,como um relógio quebrado que ninguém quer consertar.Daquele mesmo jeitinho que você esperava que fosse ser pra mim.Eu sinto sua falta Ana,e essa falta não me vai deixar nunca.


Elisama Oliveira

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Lúcia

Benditas as voltas que damos nos arredores do mundo.E estúpidos os olhares de desejo dados aos velhos pecados.Tínhamos todos os caminhos bonitos,e só o errado nos fez certos.Daí que brincamos menos de sermos felizes e passamos a ter mais responsabilidade com os passarinhos que não cantavam na nossa frente.Crescemos Lúcia,e você envelheceu bem menos do que eu.Ficou bonita,e menina como ninguém jamais nascerá.Tudo o que enterramos voltou à tona num fá sustenido.E você não volta,Lúcia.

Preciso de um barulho mais nosso.De uma vida só minha,de mim.Estou inerte na vontade de ser mais ampla.Abrigada naquele aperto que se fez no seu abraço.Me alimentando de poucas palavras cuspidas do rádio,tomando chuva,bebendo estrelas,voando ao norte.


- Boa noite,Lúcia.Que houve com a porta dessa vez?
- Boa noite,Doutor.

O Narciso morrera de amor por si mesmo.Lúcia morrera pela falta desse amor.A loucura era como sua canção esquecida e empoeirada.Feita de silencio,em pó.

- Lúcia,por favor.O que houve com a porta dessa vez? A enfermeira me disse que você desenhou uma flor,com seu sangue.Já não lhe disse que é perigoso que você se corte?
- Ela está louca,Doutor.
- A enfermeira?
- Não.A porta.

O médico suspirou fundo como se tivesse trocado de alma naquele instante.Fechou os olhos,e os abriu,os fixou na menina magra,quase pálida e de cabelos embaraçados.Ela segurava umas das mãos que sangravam,e  olhava para os pingos de sangue que caíam no piso braco,seu pensamento era frio.

- O que a porta,fez à você ?
- Ela cantou que não haveria hoje depois de amanhã.Eternizou todos as palavras de Assis num veneno que ninguém consegue enxergar Doutor,só eu.Eu gritava para que ela parasse,mas ela ria de mim.E ria com uma crueldade... eu tive medo.Daí lembrei do que o Doutor me disse da outra vez,que sempre que eu tivesse medo deveria pensar no que eu mais gostava.Eu gosto muito de flores doutor.

E seu sangue pingava,sua vida pingava junto.Lúcia enlouqueceu no mesmo dia que eu.E nossa loucura nos fez entender que éramos mais sãs do que qualquer um.O homem se levantou andou até a cadeira na qual  Lúcia estava,agachou ao seu lado e levantou seu rosto com uma das mãos:

- Ouça Lúcia,toda vez que a porta lhe ofender feche os olhos e pense em todas as flores que existem.Tampe os ouvidos,e peça para que me chamem.Tudo bem?
- T-u-d-o-b-e-m.
- Bom.Agora,vou pedir à Marta que cuide desse sangramento.Promete que vai ser boa com ela?
Houve um suspiro,uma lágrima pesada e involuntária.Um desabafo mudo,um segredo silencioso.O olhar baixou,e cantou:
- P-r-o-m-e-t-o.




                                                                                           Elisama Oliveira

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O bar das Flores perdidas

Dançaram.E dançaram até o que o ultimo músico se fosse e levasse consigo a vontade de viver.Inquietas e cheias de involuntariedade.Mortas,de alma,de peito,de luz.E não havia cor de que se orgulhar,não havia peste que não fosse desejada sobre si.Foi um inverno longo aquele.

Sabe,dizem que quando a gente cresce o mundo é todo simples.São poucas as coisas que nos cativam,poucos os muros que nos chama a atenção.Mas,creio que "crescer" está além do nosso entendimento.É quando a liberdade se torna um âmago,algo tão seu que ninguém possa ver.Algo tão simples que se torne complexo ao olho humano.É quando você deixa de estar só pra estar contigo.Crescer,que é tão inalcançável quanto um beijo de borboleta.Quando nos perdemos.E perder a si é como não ver o dia de amanhã.É como ver,e não enxergar.O desatino de existir,é crescer.

E as Flores foram longe,e riram e cantaram.Não pararam até que a ultima delas não suportasse mais estar em pé.Loucas,pobres e embriagadas.Toda a dor e tristeza embelezadas por conta de um Beija-Flor que não lhes foi fiel.Foi buscar amor n'outra vida.


Perdoem-me crianças,tenho estado cheia de nós ultimamente.Tenho me encontrado em braços de ferro e mentes fechadas.Tenho sentido um medo de perda.Sou eu,essas flores perdidas.Somos nós.Desencontrados.Parece um labirinto essa busca por satisfação,onde eu procuro um pouco menos de compreensão.Não entenda,cresça e não entenda quando crescer.Só viva.Que aqui não há mais espaço para pensamentos sóbrios.Tenho tentado ser mais convidativa,mas é que meus ombros são pesados demais.Minto,não são os ombros,são as histórias e anjos que eu tenho tentado curar sem muita expectativa e nenhum resultado.Então,perdoem-me crianças,tô indo.Onde,só as flores sabem.E lá,eu sei,não há vento que não me cante: Liberdade!




Elisama Oliveira

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Gigante,de dentro para fora.

Aos que estão perdidos de desespero,meu silencio.Aos que foram cativos,meus pêsames e sinceros ressentimentos.São tempos de glórias perturbadoras,onde não sei mais o que é bom de se ter e ruim de se perder.E me perdi na história de um velho coração domado pela tristeza.Era um fardo grande,e seus ombros já não se dobravam diante das conquistas.Era um fardo de medo.

Ele era um amante da alma proibida,e fechado de fora para dentro como quem se esconde de si mesmo.Entorpecido de arrependimentos até os mais altos fios do cabelo.Nos seus muros haviam gravações de anjos que lhe faziam umas visitas de tempos em tempos e eu gosto de pensar que ele sorria ao reler cada uma delas escritas à sangue azul.E foi azul esse seu pensamento de liberdade.Mas a liberdade menino,só é ato quando você é dono de seus próprios pensamentos e não há nada que lhe faça ir contra a tua razão.Sinto dizer,mas ninguém é livre.Pois nossos pensamentos nunca são realmente nossos,são de "nossos" pedidos à cada estrela que cai,à cada vela de aniversário,à cada ano que se dobra.Pedimos.Pedidos,perdidos sim.

Gigante,de dentro pra fora.Enrijecido de venenos antigos,desencontrado em fotos penduradas no tempo.E que tempos esses.É engraçado te observar,e ver o quanto sangra quando sorri.O quanto inflama quando abraça alguém e o quanto morre à cada dia.E de amor.Todos afinal morremos de amor,e nunca "por".Amor não mata,menino.O que é mata é a falta dele,a vontade de ser menos incompleto.

E os nossos pensamento continuam nunca sendo nossos.Mesmo depois de mortos e refeitos,perdidos e recapitulados.Daí que a liberdade nunca vem.


                                                                                         Elisama Oliveira

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Até que uma fada me segurou



-  Ei,me segura? 

- A gente se segura criança,só que não pode soltar,estamos presas por um único braço.

- Pois bem,estamos.Mas,e daqui pra frente ?

- Cuidado pra não cair, qualquer coisa a gente combina: um,dois,três,pula! E vai ser feliz como deve ser.

domingo, 6 de maio de 2012

Tempo,que de vasto não tem nada.

Ontem escrevi seu nome na ultima folha do caderno e esperei a nostalgia  derreter cada pedaço de mim.Não deu certo.Nunca dá.Não mais.E não entendo como eu posso querer me deitar sobre a falta e chamá-la mais para dentro de mim.Não falta.Eu sempre fui certa de disso,e incerta de viver.Inquieta.
Nunca me perguntei porque todo esse apego às coisas tristes.Nunca me fiz lembrar a razão pela qual gosto mais do cinza do que de vermelho.Vermelho que só fazia bonito no céu,quando o dia nascia com um sol à menos.Quando a vida amanhecia manhosa.Quando a vida tinha cheiro de flor venenosa.Eu me via deitada sob um velho e antigo sonho sem virgulas de incoerência e qualquer morfologia.Não me faziam sentidos esses feitos.Queria que fosse assim,tudo uma bagunça,que fosse nossa.


É um anjo que se perde.Uma vida que se adianta em nascer por conta da irracionalidade.É um poço que fica mais fundo à cada morte.É um cantor na praça que nunca vai gravar um disco,e outros que gravam besteiras.É o velho ficando louco,e o jovem ficando velho.É o tempo.Nos contaminando dia após dia com essa letargia.

Me leve,ah sim,me leve.Até o mais alto sonho e não me largue.Me entorpeça de palavras amargas.Me derreta e desenrole os fios do meu cabelo.Até que não haja mais tempo.Até que o mundo acabe,e seja vasto como o quê.Mundo vasto,tempo inquieto.Todos conspirando contra minhas camisas amassadas.Tem canto,tem medo,tem briga,tem poesia,tem palavra e falta dela,tem mentira e toda indisposição.Tem tempo.E muito tempo por nada.


É Drummond,mais vasto é meu coração.




                                                                                                                                      Elisama Oliveira

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Que seja recíproco

"Mas tu não a deves esquecer. 

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" 





Quando cheguei,reli todas as minhas folhas e tive uma clara certeza.De que em nenhuma delas havia registrado tal pensamento. Eu estou ficando louca,gosto de acreditar.Mas só porque é mais fácil aceitar isso do que minhas infinitas contradições à seu respeito.

Não  deixo de me perguntar, o que foi mesmo que me fez desistir de ter ido embora aquele dia. Eu podia não ter sentado ali,podia ter ido pra casa e continuado a vida.Eu podia ter fingido não conhecer ninguém no outro dia,ter feito menos caso.Mas eu só fiquei,e fiquei com a vida revirada ali do teu lado.Toda do avesso e sem pedidos de desculpa à mim. Só fiquei...

A  verdade que eu enxergo ali é tão triste que eu estremeço toda vez que paro pra pensar." Onde foi? foi na alma ?".E outro anjo torto na minha vida.Não entendo.Ou entendo,e esse é o problema,eu sempre quero entender demais.Quero cuidar,pegar no colo,quero fazer cafuné pra ver se a dor vai embora e deixa de se embaraçar lá dentro.Eu sei que não vai.Mesmo assim ainda quero cuidar do peito que não é meu.E só aumento o medo de acabar não tendo quem cuide de mim.Eu,toda difícil de lidar,tô sempre em contradição.Mas não é de dizer mentiras,é de se embaralhar com a verdade.Estou sempre com as palavras certas e dizendo as erradas.E isso sempre te faz rir,e é tão bonito quando ri. Só que as vezes eu solto um espinho e não me perdoo por te ver sangrar.É que são assim a flores meu menino,têm veneno também,independentemente do perfume também machucam. E tu que me cultivas,assim,sem medo de saber à que estrada sigo,me cativas.

Cativar*

(Criar um laço,pra que eu não te veja como todo mundo,pra que te queira sempre bem e tu me queiras sempre sua.Pra que eu te veja e me alegre,pra que a vida seja como feita de sol. Assim,me cativas.)


Mas ainda te espanto,te abandono,te firo e te enveneno,e é de tanta corrupção.É de tanto ser levada à lugar nenhum.É o ser humano com a velha mania de não ser por inteiro às coisas que lhe são bonitas. Como a vida,o amor,um bilhete na geladeira no qual esteja  escrito "e todo amor,só reservo à ti.bom dia".Mas não é frieza,não é medo,não é falta de amar,não é falta de retribuir.Não tem nome.Sou eu.Então tomara que me esperes,que não se canse,que não solte a outra ponta.Tô chegando menino,mas ainda tenho muitos sonos à perder.

                                                                       Elisama Oliveira

sábado, 14 de abril de 2012

O Homem Cinza (part.II)




Certa vez - diga-se de passagem - decidi salvar o mundo, ou uma parte dele. Mas fosse como fosse, algo deveria ser salvo, algo necessitava da minha atenção por mais incógnito que fosse. Era nisso que gostava de acreditar. Hoje não tenho mais tempo para o mundo, tão pouco para salvá-lo. Hoje minhas preocupações se resumem em tomar remédios e esconder o rosto do sol. São tempos cruéis, e eu já não posso me dar o luxo de estar debaixo de árvores esperando o dia passar.

Já disse que sou cinza?
Pois bem, sou cinza de tanto deixar minhas cores nos olhos dos outros. De me pintar na vida de alguém que tão sutilmente, ou nem tanto, me tira devagarinho com a chuva. Sou cinza de me dissolver em palavras de pessoas incrédulas de si mesmo.


Eu já me pedi perdão umas quatrocentas vezes. Porém em todas me recusei a olhar no espelho e esperar que aquele velho cheio de falhas estivesse realmente arrependido de tudo. Ele estava. Mas eu não podia confiar nele. Pois havia me prometido não confiar em mais ninguém a não ser no tempo. Só ele merecia confiança. Apesar de ser quem mais me destruiu os sonhos, ele sempre esteve lá. Ele nunca mentiu pra mim. Rugas, eram sempre rugas. Aniversários, sempre significaram estar mais perto do fim.Velhas piadas, tenderiam à ter menos graça.Velhas histórias passariam à ser contadas. E mentiras, seriam só mais mentiras. Desculpe-me, é melancólico demais pensar em tudo isso. Mas é assim quando a gente cresce, tudo fica chato, melancólico e com gosto de "tanto faz". Tudo tanto faz. Tudo é mesmo uma droga quando a gente cresce. Então nossa única busca incerta e desnecessária é tentar sermos melhores, para que não nos cansemos de nós mesmo. O que  acontece na maioria das vezes. Tenho tentado ser melhor, pra mim, e ser mais aconchegante pra qualquer coração que ainda queira se dividir comigo. É assim mesmo criança, viver é esse monte de expectativas que, você sabe, nunca te deixa em esquina nenhuma.



                                                     Elisama Oliveira

sexta-feira, 30 de março de 2012

Não há Oz,não devia haver medo.

Aqui,desde os tempos passados,desde os grandes desastres,desde às mortes injustas,desde os sonhos revirados,desde os planos assaltados,eu estou.Num retórico do que nunca me foi dado.Num retrato perdido do que me foi tirado.Cá estou.Agachada no escuro com uma folha de papel na mão.Tentando não ver o que está escrito,tentando encontrar no relevo das linhas o "sentir" de quem o escreveu.Perdão,sou boba quando não me encontro.Me perdi na Estrada dos tijolos amarelos.Senti-me triste.E pior foi descobrir que Óz nunca existiu.Desmontei-me em mil histórias e me rabisquei em cada folha de caderno,só para não ter o desprazer de me esquecer.Queria me deixar aos poucos em cada pedaço de mundo que me acompanhava,e lembrar de cada um deles,os bons e os ruins,os que vieram e os que nunca virão,para que não me esquecesse.São tempos difíceis esses de se auto-proclamar.É tanto amor que morre,tanto amor que falta.Pintam muros,fazem greves,atacam o ódio (porém com mais ódio),e mesmo assim ainda falta.Meu pedido é que as flores nunca cresçam sem cor,que o medo deixe de ocupar o lugar dos velhos amigos.Eu tenho uma fé de quem tem vida.E como a fé,muita vida pra viver.Porque se o tempo é corrupto,eu sou uma grande coração de gelo.Um eterno amante da esperança.Coisa tão sútil,que ninguém me pode roubar.



                                                                                Elisama Oliveira

sexta-feira, 23 de março de 2012

Nós passamos,e sós.

                        "Eu,do avesso sem trechos ou desculpas,senti.
      Tu,tão grande dentro de um mundo apertado,não viu."




Eu vi.De longa observação,um moço sentando.E era só,sim era só.Pois enquanto fumava,eu lia na sua fumaça a tristeza de quem não tem um velho sonho de que se orgulhar.Ele olhava para frente.Mas não via nada.Estava envolto num pensamento profundo.Num arrependimento,penso eu.E foi triste a forma como ele se sentou ali e esperou o tempo passar.Não passa.Nunca passa.O tempo não.Nós passamos.E nos deixamos e nos desmontamos.Estremeci.Acordei com a culpa de quem o havia abandonado.Porém que podemos nós fazer além de observar a tristeza e deixá-la seguir? Não pude.A minha estava ali.Me sorriu melancólica.E suspirou: "deixa criança,tu não podes roubar a dele,cuida de mim..."
E eu retornei a caminhar,pra cuidar da minha tristeza,pra curar-lhe os ombros,pra encher-lhe os olhos.
Porque nós,somos sim.Amigos da nossa tristeza,que nos vê e nos guarda com desdém.Conforme o dias passam,- minto,conforme nós passamos - ela vai se desgastando e sendo menos impertinente,até não ter forças nem para nos sorrir amarela.E se vai.É isso,esperar ela se cansar de nós.E esquecer que à nossa sombra esse pedaço de vida nos acompanha.



            Elisama Oliveira

sexta-feira, 16 de março de 2012

Abstrato

Quando eu paro pra pensar,lamento ter tantos cortes na garganta.Lamento,pedir ao tempo pra andar mais depressa na direção do vento.Quem sabe eu chego mais rápido onde as flores também cantam e os olhos já não mentem.Verdade seja,que é um mundo abstrato e cheio de minhas diversas exigências.Porém que seja.
Eu sou menos cativante à cada dia que chega,mesmo que me digam o contrário.Me cansei.E me deixo,assim,à deriva nesse mar de "esperar" o que não tem nome.De relevar o que não se leva a tanto tempo.Por isso eu sou um pouco mais cansada quando vou me deitar hoje em dia.Não porque fiz muitas coisas,mas porque carreguei muitas coisas.E não na mochila,na mente.Me perguntam,me encaram,me abraçam e me olham com uma certa arrogância.Eles falam,tentam,fingem me entender.Eu lhes dou poucas palavras.Não todas.Mas com essas poucas,eles dormem por acharem ser exagero meu.

- "Dorme criança,que passa.."

É,dizem que passa.Mas enquanto não passa,agente cresce rápido demais em tão pouco tempo.Enterramos velhas histórias,e fotos amassadas.Eu,tão minha de inocência e lucidez,não tinha medo e nem falta de coragem.Eu tinha muitos corações pintados na parede.Os apaguei.E fiz do escuro um abrigo bem mais íntimo do que de costume.Eu,que tinha tanto tempo,não observava as coisas como observo agora.

Não sou triste.Sou involuntária.Sou menos eu.Porque penso,quero,mas logo esqueço.Lembro,desdenho,e logo descarto.Não me culpo,nem me entendo.Sou eu querendo ser menos pressionada a ser só mais uma.Feita em série e sem cortes.Daí,nessas tardes de um dia qualquer que eu me encontro,tomo um chá e converso um pouco mais comigo.Me deixo em dia,me colo os cacos,me penteio o cabelo,refaço ou recorto um laço.Me inclino,me conto uma história,me canto uma música,me convido à ir em frente mais devagar.
Sem pressa de chegar,de acertar,de encontrar cura,de curar,salvar e esquecer.Esquecer que vou sentir falta do seu café,que não vou me perdoar por não ter me despedido.Esquecer de ter cortado nossos laços ao meio.Me perdoem,mas não sei ser todo coração.Só que sou tão razão,que me desespero.E me enriqueço só de arrependimentos.

Quando paro pra pensar,lamento sentir tanto e não dizer.Eu sei,ninguém vai rir,ninguém vai julgar.Mas ninguém vai ver o suficiente até que entenda que esse mundo em que cresci é bem mais escuro do que se pode pensar.Ninguém vai entender que os laços que me enforcaram vieram das mãos de anjos do quais nunca vou me esquecer.Um,que nunca vai entender como precisava ser presente.Outro,que me carregou nos braços até o mais alto sonho e me soltou por covardia.Tantos outros,que vieram e se foram.Todos meus,sem saber.E eu,tão perdida,sem querer.


                                                                                                                  Elisama Oliveira

[...]

"Eu sei, eu sei, o eterno clichê “isso passa”. Passa sim e, quando passar, algo muito mais triste vai acontecer: eu não vou mais te amar.É triste saber que um dia vou ver você passar e não sentir cada milímetro do meu corpo arder e enjoar. É triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo não vai desaparecer. O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim.Meu amor está cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu não quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto. Eu me agarro à beiradinha do meu amor, eu imploro pra que ele fique, ainda que doa mais do que cabe em mim, eu imploro pra que pelo menos esse amor que eu sinto por você não me deixe, pelo menos ele, ainda que insuportável, não desista." (Tati Bernadi)  

terça-feira, 13 de março de 2012

Hoje



Minhas malas estão sempre prontas,mas a mente não.Minha vida amor,tem estado cheia de pessoas vazias.E essas pessoas,cheias de mim.

Hoje eu quis ser mais feliz.Quis cantar,e gostar um pouco mais de barulho pela manhã.Hoje eu quis ser criança até o meio dia.Saí,e gostei de pensar que minha vida tinha uma trilha sonora,ao som de poetas de concreto e a velha doce voz de poetas já mortos para o mundo.Eu quis pegar o caminho mais longo,ir mais devagar.E observar,tudo aquilo que nunca vi,ou o que nunca achei ter visto.Hoje eu nasci menos inconsciente do que ontem e mais satisfeita do que vou ser amanhã.Hoje,eu só quis.E querer não me faz feliz.Porque eu só quis,e não fui.Só quis,e me deixei sentada o dia todo pensando em como eu posso idealizar.A verdade é que hoje eu quis ter pra quem voltar quando o dia acabasse.


                    Elisama Oliveira.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Nossos muros,nossas verdades.






À cada passo que eu dava nas calçadas,me desmanchava.E caíam pedaços de mim,por cada rua a que passava,não para que encontrasse o caminho de volta,afinal eu não queria voltar,mas para que soubesse de onde eu viera e não me esquecesse disso.Me perdi.De propósito,como quem joga a alma no lixa só para ter o prazer de conhecer o fim mais de perto.Eu me escondia nos muros pichados de desconhecidos revolucionários.Creio que a cada janela que eu via se fechando,encontrava um significados menos satírico sobre a minha existência.

Eu estava ali.Não sabia bem onde,mas estava.Uns me viam,outros fingiam que não.E todos nós sobrevivíamos.
Eu podia pintar um muro,ou escrever nele algum princípio de revolução.Mas,não sabia o que revolucionar,só sabia que precisava,e os castelos de concreto estavam lá cheios de mentes amarguradas e corações poluídos prontos para guerrearem comigo.

Porém eu vi,que no meio da selva de prata e dos olhos corruptos eu também encontrava poesia.E encontrei poesia até na sujeira daquela grande metrópole que eu chamava de casa.Um muro - ou sua única parte ainda de pé - me suplicou num grito mudo:

- Revolução,Agora!

Eu senti um calafrio na espinha,como quem sente medo da morte.E deixei molhar todos os fatos enquanto a chuva me cobria naquela quarta-feira.Não corri,não me importei,eu só sorri.Sim,sorri,porque mesmo na minha metrópole de tristeza e mentiras eu vi a fé de quem nem sabia no que acreditar.
Se morrermos,que seja de cansaço.Se desistirmos,que seja de desistir.Se lutarmos,que seja um pelo outro,e se vivermos,que seja para não morrer em vão.Que todos os dias renasçamos,pra revolucionar.Tal revolução sem tamanho,que abale os montes e faça chorar os homens,tal revolução que derreta o ódio e nos construa castelos menos hipócritas.Tal revolução,que revolucione primeiro e verdadeiramente,à nós.


                            Elisama Oliveira

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Imortal

Que saudade!
Ah sim,que saudade daqueles velhos tempos.Dos tempos que nunca foram nossos,dos risos que nunca saíram das nossas bocas.Das tardes que nunca passamos juntos.Nós,simples seres.Seres de almas diferentes.Eu,rica de inocência e juventude,e você de passado e amargura.
Olha,eu sei que não foi culpa tua.E se posso culpar alguém,culpo um sistema inexistente.Mas,se houve culpa,ela não quis embora tão cedo.E ainda está aqui,nos castigando pelos pecados de uma geração passada.Pois bem,segure minha mão esta noite,e finja,só finja,que somos felizes,e que nada a disso vai ser esquecido debaixo daquele tapete velho na porta da sua casa.
As vezes me pergunto,como podemos sentir falta do que nunca tivemos.Se é que é falta.Prefiro acreditar que é arrependimento de não ter tido.Mas é claro que isso não nos cabe discutir.É o tempo,À vida e o vento.Só eles,e um destino sem nome que só Deus conhece.
Bom,afinal é assim que nos conhecemos,sem nos conhecer.Ligadas somente por um sobrenome num documento antigo,e um laço de sangue machucado.Muito maltratado pelo tempo,e atingido pela ignorância de um homem sem caráter.Não sei porque te amo,só sei que amo.E amo sem querer saber porque amo,só amo.Que o meu amor,enfim,te alcance num relance de cura,te abrace todas as noites,te faça uma trança no cabelo,e te envelheça com carinho.Pois bem,agora vou indo.Não sei bem pra onde,mas vou.Se cuida,e cuida de mim.Pois mesmo sem conhecer teus velhos costumes,eu me vejo ali,no cantinho do teu olho com um pequeno cobertor nos ombros e um cheiro de criança.E sim,criança vai ser esse nosso laço,pronto pra amadurecer,e com esse velho sonho de ser imortal.

Elisama Oliveira à Wanda Maria Vaz Alves. "Vó"

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Carnaval,pra quem quer.

Por incrível e mais ridículo que seja, de ontem pra hoje, não esta sendo carnaval, não esta sendo gostoso festejar. Estão todos com sentimentos ruins, desacreditados. G.S

Espelho Meu,

                                           "Traz nas asas um novo dia,me ensina a caminhar..."



Mais uma vez,lá vou eu me encontrar comigo mesma num lugar onde não sei chegar.Porém chego,e lá estou eu sorrindo,machucada.Cantando uma música enquanto sangro.Desta vez,me prometi que não iria chorar.Mas,a culpa foi daquele contador de história que me fez saber de um principezinho que não conseguiu voltar pra casa.Eu também não consigo voltar pra casa.Digo,não inteira,só por partes.Pois fica tudo lá fora.Os planos,as verdades,as fitas soltas,o velho amor.E dentro,as malas prontas,o grito seco,a mentira leve de quem sabe se dizer "bem",e o velho amor.E comigo dormem,todas as noites.

Será que foi pecado te deixar esperando aquele dia? Não,pecado mesmo é me deixar ser tão sua quando não se deixa ser meu.Gosto então,de me distrair na voz de um músico enlouquecido com essa coisa de amor.Gosto de pensar que enlouqueço disso também,todos os dias.

Me ver em ti,me faz pensar que talvez a dor seja tão grande que o destino à dividiu em duas vidas.Duas dores.Dois nomes,dois cheiros,duas palavras,dois venenos.Nós.E duas vidas,presas à laço infinito prometido aos anjos que nos fizeram abrigo.Somos fortes,mas só frente.Somos livres,mas só do mundo.Somos grandes,mas só vazio.Arrogantes,tão arrogantes que não nos permitimos macular pela esperança.Porque esperança salva,sim,e mata.Tanto quem espera,quanto quem não tem o que esperar.E já esperamos tanto,que não sabemos mais o que esperar.Ou quem,ou como,quando ou onde.Não há mais.É luz que não se vê no fim de túnel algum.

Espelho meu,me perdoe.Não posso lhe curar todas as feridas.Não posso lhe tirar dos ombros fardo antigo.Afinal,ele é meu também.Espelho meu,me perdoe.Pois não posso cantar pra ti todas as canções que tu mereces ouvir.Não posso lhe fazer companhia todas as noites.Espelho meu,me segure.Quando eu me jogar do décimo quinto andar daquele prédio no Centro.Aqui ficou muito frio,são todos os graus abaixo de zero.E nós continuamos vivendo,daquele velho jeito de sempre.Nos preocupando com nossos anjos,se estão bem,se almoçaram hoje,se ainda voam,e se voltam...

- Talvez,nós devemos simplismente ir embora,deixar tudo aí.-Eu disse,jogando no chão a folha que eu segurava e me inclinando para pegar outra mais bonita.
- Você acha que daria certo? - Ela perguntou,e eu pude até sentir a esperança na ponta da língua.
...
- Não.Mas eu gosto de pensar que daria.


Caminhamos,e toda vez que eu à olhava eu me via.Um Anjo mais velho,me deixando cada vez mais para traz.Esquecendo meus aniversários,perdendo minhas presilhas,prendendo sempre o meu cabelo com um lápis.Daí você me pergunta porque eu falo tanto sobre anjos.É só porque não acredito em demônios com a força que acredito nos anjos.E se posso ser um,nem que seja numa história qualquer,eu sou.Meu desejo final é, que antes que o mundo acabe,você me ligue às quatro em quinze dizendo que está pegando um trem rumo ao desconhecido,feliz e só.Sem medo,sem laços,sem lágrimas.E um pedido,que me faria perder as palavras e soluçar,pois eu sentiria todo o meu corpo se espatifar como um vidro fraco,em mil cacos,que voaram como pequenas borboletas antes de chegarem ao chão.Foram ao teu encontro,pois lá,eu sabia,estava minha salvação.



Fé,e a felicidade hoje é por minha conta...


                                                               Elisama Oliveira.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Anjo de Porcelana

           "Os meus pensamentos só falam minha língua,e eu estou cansada de ser só eu." G.S


São sempre tortos.Sim,os dias.Tais que riem maldosos na nossa direção.Que fizemos nós à essas ruas?
Pois,elas parecem nos rejeitar de forma fria.Pois bem,que esfriem.E lá estávamos nós,n'outra tarde,
nuas de degosto,penduradas de cabeça para baixo no ponto mais alto da vida.A esperança....

Era sempre tão sério,aquele semblante,tão egocêntrico.Que bela máscara!
Eu mesma não a manteria tão inteira.Que houve anjo? Foi na alma? Penso que tenha sido na alma.
Pois ousam dizer que são os olhos a janela da alma.E as suas,estão tão sujas.Num dia desses cheguei
a ver uma menina,(uma criança meu Deus!),era só uma criança,à me observar por dentre as cortinas,e veja só,suas mãos sangravam.Mas eu sabia (não sei como sabia,só sabia) que o sangue era seu.E que ela não havia se cortado.Ele simplismente escorreu sobre suas unhas,como um "scape".Era sua criança que sangrava.Eu vi o medo.E a menina ainda me olhava.
Mas que engraçado! Ela sorriu na minha direção,depois voltou a ficar séria,então senti o tempo mudar e,quase que
despercebidamente, eu ouvi num sussurro seus lábios se abrirem: "me ajude,me salve."
Aquilo me chocou,e sei que minhas asas se dobraram diante da tristeza que eu sentia mesmo quando ela voltou a sorrir.Como podia,tão pequena dentro da imensidão que eram aquelas cortinas azuis.São seus olhos menina,cortinas.

Reconheço,foram respeitosamente pintados sobre sua pele de porcelana.Pura por fora.Manchada por dentro.E manchada de medo,de orgulho,de veneno,e vaidade.Vaidade alias,que é só adorno.
Gosto de acreditar que em algum momento ela gostou de fazer tranças no cabelo.E que um dia ela tenha feito birra por uma boneca que não lhe fora comprada.Penso que,deve ter chorado assistindo um filme.Ou escrito versos que ninguém
jamais iria ler.

Onde foi que você se perdeu? Ah,não me diga.Foi dentro de ti,não foi?
Tu se perdeu nessa imensidão que é você.Eu sinto muito,não sei bem pelo quê.Só sinto.Pelas asas que lhe foram quebradas.
Vejo que as colou,mas que faltam partizinhas que de longe não se vêm,mas de perto fazem tanta diferença.Grandes cicatrizes de sangue no Anjo de Porcelana.É culpa do mundo.Ou nossa? Não é culpa de ninguém.Mas é que se o sol não queima,ninguém aprende a gostar da chuva.Tudo isso me passava pela mente e a verdade é que ela nem imaginava o quanto para mim,era bom ouvi-la.


- Mas,diga-me,o que você espera ?- eu perguntei silenciosa,certa de que talves ela lesse meu pensamento.

- Nem sei se espero.Como pode me perguntar "o que"? Talvez,eu espere o que não sei que espero. - Ela me respondeu,com o olhar longe.
Refleti por uns instantes,e suspirei:
- Entendo.É estranho,não é? Ser sempre inverno,ser tão monótono.Se posse lhe compartilhar um segredo,ultimamente
eu tenho sentido-me envenenada por essa mania de ser só.Acho que cansei,que não me quero mais.Que,quero
alguém que queira.Porque,ser minha me consome demais por ser tão fácil.E não me quero assim tão fácil.
Me quero longe,perdida no pensamento de outra mente.Me quero ao meio,e que a outra metade de mim me dê à
mão pra passear.Bom,é isso,não me quero.Eu quero,"querer" quem quer.

Ela riu.E foi tão lindo quando ela riu.Me encarou maliciosa,e disse:
- Você é tão leve criança,que,me divirto com tua visão de mundo.





                    Elisama Oliveira - "Para Gabriella Salomão,um verdadeiro Anjo de Porcelana"

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Somos todos Reis de nossos passos,erguidos pela vontade oculta no olhar da esperança.Guerreiros do mundo,e sós.Anjos de vidro,e fé.
Príncipes Indomáveis.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São tantos,que me transbordo.

Eu sempre me surpreendo quando ela se senta para conversar comigo.Nos dias em que o céu mostra mais do que figuras em nuvens sujas de poeira.Onde a vida,tem cheiro de perfume novo...
Ali por um instante viajei no retórico de uma vida que não passa.Ela indagou:

- Do que você se arrepende ?

Parei por um instante.Não havia resposta.Havia,mas não cabiam nas palavras.Era o gosto da perplexidade pendurado na minha língua como um veneno."Do que você se arrepende?" Ficou tudo cinza,e um calafrio me percorreu todo o corpo como um reflexo do medo." Do que você se arrepende?"Eu,de súbito,mergulhei num inconsciente à deriva,e quando respondi,não foi à ela e sim,à mim.
- Não sei.Talvez,de ter perdido à hora.De ter jogado minhas bonecas fora.Também de não ter passado mais tempo com meu cachorro antes dele morrer.Me arrependo de não ter feito as malas antes.Talvez eu não tivesse esquecido tantas coisas.Me arrependo do que disse,e do que não disse.De não querer ser criança.Alias,que pecado esse meu! De ter corrido quando começou a chover.Eu sei que ia ser melhor ter se molhado.Eu me arrependo de abrir os braços pra um sorriso malicioso.Poxa,são tantas coisas que não me cabem numa só vida.

- Criança,não se lamente.Não foi mesmo tu que disse,que somos todos de vidro? E todos nos quebramos.Certo de que alguém nos junte cada caco.Pois bem,se há arrependimentos,há também boas lições e uma mente moldada pela fé de construir o certo.Somos todos de vidro sim,e decorados pela vontade de seguir.Sempre que forem muitos,não se assuste.Deixe-se,transbordar.

                                 Elisama Oliveira.

Sem propósito,ou sentido.

Dos fatos eu que sou.
Dos pedaços que perdi,
Em cada páginas que escrevi.
E de todas as minhas folhas,o que sobrou?

Um pouco de açúcar pra me adoçar os olhos.
E as velhas fotos de um anjo sem nome.

Minto,às vezes minto.
Não era sem nome.
Era o fardo de ser livre.
O desejo de ser logo moça.

- Pra quê,criança?

Pra não ter medo de escuro,
construir nos olhos um muro.
E se entregar ao infinito,que de fininho
te cobre os ombros do inseguro.

Inseguro é amor que não tem remetente.
É canção que se canta pela metade.
É ter o peito em fogo ardente,
É abraçar o mundo,antes que ele acabe.

                                                                     Elisama Oliveira

domingo, 22 de janeiro de 2012

Desconhecido



Querido,hoje tem chuva.

           Vamos lá fora pra nos lavar do medo,e pra sentir o frio de estarmos livres.



Quando eles iam embora eu sentia como se o céu voltasse a ter a mesma cor de sempre.Era,cinza.Diferente das tardes que eles me davam o desprazer da sua presença,onde quase sempre,o céu era vermelho.E não era um vermelho bonito não.Era vermelho de morte.Eles realmente me deixavam à desejar...
Eram meus medos,e culpas,e pensamentos insanos.Sim,eram eles.E fediam,como verdadeiras traças que de tempos em tempos vinham me corroer o sono.Por isso o dia de amanhã é sempre mais bonito que o de hoje.Porque eles se foram.E foram também as verdades maculadas e as rosas que de doces,só o nome.

Hoje me perco em cantos de rádios,em músicas das quais nunca mais vou lembrar o título.Eu me perco em ruas das quais nem conhecia.Ainda não conheço.Mas gosto do desconhecido.Da fé que ele nos proporciona.Gosto de acreditar no que não conheço.Penso,que ter só temos esperança naquilo que ainda não conhecemos,naquilo que ainda não tocamos.Temos fé,naquilo que buscamos e que acreditamos que de alguma forma,isso nos traga um mínimo de salvação.Algo que nos salve de nós mesmo.

Então Querido,eu gosto de acreditar em você.No teu sorriso que eu não conheço.No teu cheiro que eu não conheço.Em você,pra vir me salvar de mim.Pra estender os braços e abrigar esse peito cheio de cravos.
Mas não sou triste.Sou leve,sou minha.Serei nossa.Deixar de ser um nó.Ser nós.

Que eu me livre então,dessa coisa de ser livre pela metade.Essa "coisa" de ter as mãos soltas,e os pensamentos presos.Que eu me livre então,de ser livre pelas mãos.E que,tão suavemente,me prenda o coração.



                                        Elisama Oliveira

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Uma breve conversa sobre a vida

Eu me sentei num banco pra esperar o trem chegar.Foi quando eles chegaram,e se sentaram ao meu lado.Mas havia outra coisa ali,um frio que eu senti nos olhos daqueles dois.Um frio de quem sente saudade.Quando uma tristeza pequenina,questionou:
- Mamãe,porque as pessoas se vão ? - disse alguém que não deveria ter menos de uns 7 anos.
- Eu não sei querido,é assim que as coisas são. - A mãe respondeu,depois de ter ficado uns bons segundos em silencio.
- Que coisas?
- A vida menino,a vida.
- A vida me entristece então.
- Não diga isso querido,você ainda é jovem.Que sabe tu sobre a vida ?
- E que mais ei de querer saber sobre algo que nem mesmo conhecendo,me parte o coração ?







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A sós com a lua

Estávamos então,à sós com a lua.De mãos dadas com o vento,e o rosto sobre a vida de quem ainda não sabia existir.Somos mesmo tão ridículos.E veja só,se ser ridículo não é o mesmo que ser livre.Livres,enfim.Mas,livres de quê? Perdoe-me,eu já nem vejo beleza na liberdade.Porém somos sim,livres do mundo que de fininho,nos aprisiona em seus feitos e defeitos.Onde todos caminham,e nós estamos correndo.Onde o céu é cinza,e nós os pintamos todos os dias com as cores do velho amor.

Eu sei então que é besteira querer um pouco mais de tempo.Tempo pra quê ? Pra não pular do décimo quinto andar.Pra não deixar a dama esperando na mesa de um bar.Pra esquecer a dor de ser sozinho.Pra ouvir e admirar os passarinhos.Esse é o meu sentido de viver.O meu sentir.Que ninguém vê,e me basta.
Então sim,vejo poesia até no café que esfria.Como o peito que esfria.Como o anjo que se desfaz em sonhos.Como a vida que acaba em flores.

Nós somos esse nó,singular como o quê.Um nó de esperança.

Somos todos de vidro afinal,nos quebrando conforme a música vai se esvaindo.E quando a tarde chega,somos nós todo cacos cheios de sangue.Prontos,pra que alguém nos cole caco à caco num peito nu carregado de cuidado.De novo,estamos inteiros.Afinal,até a tristeza tem seu fim,dado pelos braços abertos de quem observa as nuvens esperando que mais do que um desenho,encontre a vida de quem vai lhe juntar todos os pedaços.


                                                              Elisama Oliveira